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O campo expandido em que a arte se encontra hoje nos surpreende com incríveis possibilidades de representações, suportes e poéticas. Vivemos absolutamente mergulhados nesses tempos de multiplicidade, nos quais – e por isso mesmo – vivemos a angústia de encontrar um porto seguro. Se por um lado, os trabalhos de Mayra Rodrigues, em sua diversidade que transita entre o tecnológico e o traço, revelam toda a coragem, liberdade e ousadia criativa da artista, por outro lado estão longe, muito longe, de se configurarem como um porto seguro, qualquer porto seguro que seja. Na verdade, a mostra é a materialização das reflexões de uma artista acerca do que somos, do que representamos e sobre aquilo que nos representa. 

 

Alguns, distraidamente, poderão acreditar que é do lugar de Kiki que aqui se fala, sem perceber, no entanto, que estamos diante de um espelho. Mayra Rodrigues parte de uma imagem – seu retrato –, feito em tempos sombrios de nossa história para nos confrontar hoje, já em outro século e em tempos igualmente sombrios. É instigante pensar que, mesmo atuando dentro do aparato repressor policial, a representação de alguém ainda assim instaura possibilidades diversas de se ver o outro e de nesse outro se ver, o que marca o território polissêmico de Mayra Rodrigues. 

 

A artista expande as possibilidades de representação em um jogo lúdico, convidando todos nós a participar, a nos divertirmos, a descobri-la e, nesse jogo, nos descobrirmos; um jogo no qual nos sentimos confortavelmente presos.

 

Partindo de sua própria imagem, a artista nos obriga a refletir sobre nosso próprio lugar no mundo, sobre nossos medos; sempre se valendo de algo extremamente recorrente na história da arte: o autorretrato. Neste sentido, Mayra Rodrigues se arrisca, se lança e se expõe de muitas formas, enquanto nos revela uma mostra complexa tanto em sua construção estética quanto em sua poética marcada pela beleza  e por múltiplas dualidades.

 

Ao caminharmos pela galeria, somos surpreendidos por muitas incertezas: Será aquilo um rosto? Será Kiki? Ou, ao contrário, Kiki somos todos nós? Seja lá como for, venha conhecer Kiki, que está prestes a te conhecer!

Marco Antonio Portela

Maio de 2017.

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